São Tomé Apóstolo: Fé, Dúvida e a Missão

Quem foi São Tomé?

São Tomé foi um dos doze apóstolos escolhidos por Jesus Cristo, conhecido tanto pela sua coragem quanto pela célebre incredulidade. Seu nome, “Tomé”, vem do aramaico e significa “gêmeo” — e em grego também é chamado de Dídimo, que tem o mesmo significado. Embora os Evangelhos não tragam muitos detalhes sobre sua vida antes do chamado de Jesus, sabemos que ele abandonou tudo para seguir o Mestre, como os outros apóstolos.

A Incredulidade de São Tomé , por Caravaggio (c. 1601–1602)

O Apóstolo da Fé Vacilante

Tomé ficou especialmente marcado pelo episódio que aconteceu depois da Ressurreição. Quando os outros discípulos contaram que tinham visto o Senhor ressuscitado, ele disse que não acreditaria sem antes ver e tocar as chagas de Jesus. Oito dias depois, Cristo apareceu novamente e convidou Tomé a tocar Suas feridas. Nesse momento, Tomé fez uma das maiores profissões de fé já registradas na Bíblia: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Essa declaração não apenas transformou a sua história, mas se tornou um marco da fé cristã, mostrando que até a dúvida pode conduzir a uma fé mais profunda.

Como foi sua vida após a ida de Jesus?

Depois da Ascensão de Jesus, a vida de Tomé mudou completamente. Repleto do Espírito Santo, ele se dedicou a anunciar o Evangelho. Segundo tradições antigas, foi além das fronteiras do mundo romano, tornando-se um grande missionário em terras distantes.

A Missão na Pérsia e na Índia

A tradição mais consistente conta que São Tomé pregou primeiramente na região da Pérsia, atual Irã, e na Mesopotâmia, onde fundou comunidades cristãs. Mas foi sobretudo na Índia que sua missão ganhou força e fama. Por volta do ano 52 d.C., Tomé teria desembarcado no porto de Muziris, hoje chamado Kodungallur, no estado de Kerala, no sudoeste da Índia. Ali encontrou comunidades judaicas já estabelecidas, mas também evangelizou muitos indianos, fundando igrejas que passaram a ser conhecidas como Igrejas de São Tomé. Até hoje, há comunidades cristãs no estado de Kerala que se orgulham de ter suas raízes ligadas diretamente a ele, conhecidas como os Cristãos de São Tomé.

O Martírio de São Tomé

Segundo a tradição, São Tomé foi martirizado na Índia, nas proximidades da cidade de Chennai (antiga Madras), num lugar que hoje é conhecido como Monte São Tomé. Conta-se que foi morto a golpes de lanças, provavelmente entre os anos 68 e 72 d.C. Em Chennai, existe atualmente uma basílica dedicada a ele, que afirma guardar suas relíquias e se tornou lugar de grande peregrinação.

Devoções e Curiosidades sobre São Tomé

Padroeiro e Intercessor

Apesar de ter ficado marcado pela dúvida, Tomé tornou-se símbolo de fé firme e profunda. É invocado especialmente por aqueles que enfrentam dúvidas espirituais ou buscam fortalecer sua fé. Além disso, é considerado padroeiro dos arquitetos, pedreiros e construtores, pois, segundo algumas tradições, trabalhou construindo igrejas durante suas viagens missionárias. Na Índia, é venerado como patrono das comunidades cristãs locais, que mantêm vivas tradições em sua memória até os dias de hoje.

Curiosidades Históricas

Existem textos antigos, como os Atos de Tomé, escritos em siríaco no século III, que relatam suas viagens e conversões em tom épico e até lendário. Neles, Tomé é retratado evangelizando reis, nobres e até castas altas da sociedade indiana. Embora muitas dessas narrativas sejam consideradas mais lendárias do que históricas, elas revelam o quanto a figura de Tomé foi importante para a expansão do cristianismo no Oriente.

Uma curiosidade marcante é que, embora seja conhecido como “o incrédulo”, foi também o primeiro apóstolo a fazer uma declaração tão explícita sobre a divindade de Cristo, proclamando: “Meu Senhor e meu Deus!” — palavras que ecoam até hoje nas liturgias e orações cristãs.

Quando é celebrada sua festa?

A festa litúrgica de São Tomé é celebrada no dia 3 de julho no calendário atual da Igreja, embora, antigamente, fosse comemorada em 21 de dezembro no Ocidente. A mudança ocorreu após a reforma litúrgica, para coincidir com a data tradicional da trasladação de suas relíquias para Edessa, na antiga Mesopotâmia, hoje Urfa, na Turquia.

No final das contas, São Tomé nos ensina que a fé não é ausência de dúvidas, mas muitas vezes passa justamente pelo enfrentamento delas até chegar a uma convicção profunda. Seu testemunho continua vivo, lembrando que até aqueles que vacilaram podem tornar-se grandes missionários e levar o Evangelho até os confins da Terra.

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